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| Foto divulgação |
O Brasil confirmou nesta terça-feira (11), durante a COP30 em Belém, sua participação em uma aliança formada por 42 países que pretende transformar o transporte pesado nas próximas décadas. O compromisso estabelece que, até 2040, somente caminhões e ônibus totalmente isentos de emissões poderão ser vendidos no país — um direcionamento que deixa de fora veículos movidos a biocombustíveis.
A decisão chama atenção porque contrasta com o discurso recente do próprio governo. Na semana anterior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia proposto que a comunidade internacional ampliasse de forma expressiva a produção de combustíveis sustentáveis até 2035, incluindo etanol, biodiesel e biometano — áreas em que o agronegócio brasileiro enxerga oportunidades de expansão.
Como funciona o compromisso
O memorando da coalizão Drive to Zero, liderada pela Colômbia, determina duas metas principais:
- 30% das vendas de veículos pesados devem ser de modelos de emissão zero até 2030;
- 100% dos novos ônibus e caminhões vendidos a partir de 2040 devem operar sem emitir poluentes.
O cálculo adotado pela iniciativa considera apenas as emissões liberadas diretamente pelos veículos. Dessa forma, tecnologias como eletricidade e hidrogênio verde são contempladas, enquanto os biocombustíveis — que reduzem emissões no balanço total do ciclo, mas ainda liberam gases na queima — ficam fora.
Decisão surpreende setores do governo e da indústria
A adesão repentina ao acordo provocou perplexidade entre representantes do setor de biometano e até dentro do governo. Fontes do Itamaraty que participam de negociações internacionais sobre combustíveis afirmaram não ter sido informadas previamente.
A presidente da Abiogás, Renata Isfer, manifestou surpresa:
“O ministério sempre reconheceu o papel estratégico do biometano. Pretendo buscar esclarecimentos.”
O próprio Ministério dos Transportes, responsável pela assinatura, afirmou que a entrada do país na coalizão visa ampliar o diálogo sobre diferentes caminhos para a transição energética.
Biometano ganha espaço no Brasil, apesar do acordo
Nos últimos anos, diversas empresas brasileiras passaram a adotar o biometano como alternativa ao diesel. Natura e L’Oréal já utilizam o combustível em parte de suas frotas, e montadoras como Scania e Iveco ofertam caminhões preparados para rodar com o gás renovável.
O número de veículos pesados a gás emplacados no país vem crescendo rapidamente. De acordo com a Anfavea, somente no primeiro semestre de 2025 foram registrados 356 caminhões desse tipo — mais que o dobro do total do ano anterior. O setor também conta com apoio de bancos públicos, como o BNDES, que tem financiado projetos de produção de biometano.
Papel do governo nos biocombustíveis
Apesar da nova adesão, o governo federal continua promovendo iniciativas ligadas a combustíveis renováveis. Em outubro, Lula participou do lançamento do Bevan, um combustível derivado de gordura animal e óleo de soja, criado para substituir o diesel em veículos pesados.
O que diz a coalizão
Para a diretora global da Drive to Zero, Stephanie Kodish, o objetivo da aliança é claro:
“Emissão zero significa nenhuma emissão no escapamento. Isso restringe as opções essencialmente à eletrificação e ao hidrogênio.”
Ela afirmou que o acordo não impõe tecnologias específicas, mas estabelece a exigência de que veículos novos não emitam poluentes diretos — critério que automaticamente exclui o uso de combustíveis renováveis.
